À beira-mar eu caminhava sobre a areia branca.
E espumas de ódio chegavam aos meus pés.
Eu recuava em oposição ao mar,
E elas recuavam também.
Mas sempre voltavam.
E a cada retorno, tingiam de cinza-chumbo-medo as areias,
E traziam consigo memórias do além-mar:
Um carrinho de brinquedo,
Um laço de fita,
Um poema,
Uma fotografia,
Um abraço interrompido.
Para em seguida engoli-las definitivamente.
Em algum lugar elas resistiram? Em algum tempo elas existiriam?
As pessoas se banhavam nas espumas de ódio com bastante alvoroço.
Via de longe seus olhos arregalados e suas bocas se movendo.
Parece que falavam de pátrias, de párias, de malditos outros que não deveriam isso ou aquilo.
E a cada memória engolida, elas davam tiros atômicos para o alto, rindo e espumando.
Rindo e espumando.
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